Foles: sopros de ar e fogo

São usados para atiçar as chamas que ardem nas lareiras. Mas a história dos foles é longa e vai muito para lá do uso mais habitual a que hoje os associamos. Este instrumento aparentemente simples, que reúne ar numa câmara específica para o efeito e pode ser manuseado sem grande ciência através de um par (ou mais) de tábuas laterais, teve as mais diversas funções e formatos.

Os foles foram de importância primordial, por exemplo, para os povos do Saara, em África. Há registos do seu uso cerca de 100 anos Antes de Cristo, acreditando os especialistas que serviam para controlar as fogueiras que os povos nómadas acendiam durante as noites frias do deserto. Mais tarde, noutras regiões africanas, passaram a ser utilizados com propósito duplo, através de mecanismos mais elaborados que, simultaneamente, expeliam ar e o aspiravam por outra cavidade diferente.

Revelaram-se úteis para o desenvolvimento da produção rudimentar de peças de louça, como pratos ou panelas. Há também registos da sua utilização no Egito e em certas partes da Ásia, como na atual China. Aí, durante a dinastia Han, de 206 a.C. a 220 d.C., começaram assentes em bambu, muito comum na região, e acabaram de tal forma desenvolvidos que até um sistema hidráulico foi concebido para o efeito, algo revolucionário para a época.

Um salto no tempo leva-nos à movimentada Veneza do século XVI, onde um promissor proprietário de uma oficina de fundição chamado Vanocchio Biringuccio desenvolveu aquele que pode ser considerado o primeiro fole mecânico de sempre. Tinha dimensões consideráveis e permitia enviar ar de forma permanente, controlada e eficaz para os fornos que lhe alimentavam o sustento.

Estávamos em 1540 e, sem se dar conta, Biringuccio fez escola. A sua invenção permitiu que os ferreiros passassem a ser auxiliados por um precioso utensílio, autêntico parceiro fundamental e inseparável de labuta. A moda pegou e espalhou-se por toda a Europa, onde a arte de trabalhar o metal a altas temperaturas era então bastante comum.

Além de instrumento operário, o fole passou a ser objeto procurado pela raridade das suas formas. Havia quem se dedicasse a produzi-los de forma artística, de tal maneira que, também aqui, a diferenciação social se fez sentir. Aos menos favorecidos estavam destinados os foles mais rudimentares, sem grandes aparatos estéticos. Para as classes mais abastadas, eram reservados os mais cuidados, boa parte deles com pormenores onde se evidenciava o luxo dos materiais usados na sua manufatura, como o couro das caixas de ar e, até, os metais preciosos que ornamentavam as pegas.

Com o advento do século XX e a multiplicação das lareiras nas casas particulares, em especial na Europa e nos Estados Unidos, os foles passaram a ser presença doméstica habitual. Sem grandes aparatos de imagem, mas com imensa funcionalidade.

Um fole, mil sons

Da Escócia para o Mundo
Além de utilizados para controlar ritmos de fogo, seja em contexto doméstico ou industrial, os foles têm outros destinos e práticas, nomeadamente artísticas. No Reino Unido, em particular na Escócia, são famosas as gaitas-de-foles, instrumento que se espalhou por outros pontos da Europa, nomeadamente por Portugal, onde é comum a sua utilização cultural em Trás-os-Montes ou no Minho. Os modelos vão dos mais simples aos mais elaborados, dependendo da mestria dos artistas que os tocam.

Música para todos os ouvidos
Há órgãos de igreja que também não dispensam os foles, essenciais ainda nos acordeões, elemento musical também bastante comum em várias partes do Mundo. A harmónica é outra das peças em que os foles são indispensáveis.