Calendário: dias à distância de um olhar

Desde sempre o Homem quis controlar o tempo e adaptá-lo às circunstâncias de vida e de trabalho que orientam o quotidiano. Daí que tenha sido necessário encontrar forma de encaixar diferentes ciclos num plano regular que melhor definisse a passagem dos dias. Um dos mais antigos calendários pode ainda hoje ser encontrado no templo de Karnak, dedicado ao deus do vento Amom-Rá, no Egito. Está gravado numa enorme parede de tijolo, é formado por diversos símbolos e manteve-se bem conservado até à atualidade.

Outra das civilizações que deixou para a História calendários épicos foi a asteca. O povo que habitou o México até à chegada ao território dos espanhóis, desenvolveu o xiuhpohualli. O nome parece estranho, é verdade, mas o método foi incrivelmente inovador. O xiuhpohualli dividia um ano solar em exatos 365 dias, ao qual se juntava um outro ciclo mais pequeno, de apenas 260 dias, os quais, de forma sagrada, contavam períodos agrícolas seguidos à risca. Cravados em pedra, foram destruídos quase na totalidade aquando da colonização. Um dos raros exemplares pode ser contemplado no Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México.

Mais a sul, também no continente americano, os incas desenvolveram um processo idêntico ao dos astecas, baseado na observação dos ciclos do sol e lunares. Contaram 12 luas – os atuais 12 meses -, dividiram cada uma delas por 30 – a média mensal de dias – e passaram a regular o tempo dessa forma. Uma revolução importante que permitiu coordenar de forma mais produtiva os processos de trabalhar as diferentes colheitas.

O calendário gregoriano, ainda hoje o mais utilizado em todo o Mundo, surgiu na Europa no século XVI. Deve o nome ao Papa Gregório XIII e substituiu oficialmente o calendário juliano, que então vigorava desde os romanos, quando foi imposto pelo imperador Júlio César. Este último fixou o número de dias do ano em 365, os meses em 12 e as estações em quatro. Gregório XII acabou apenas por aperfeiçoá-lo, sobretudo as datas de início e de fim de cada uma das estações, e instituiu que fosse utilizado em todos os países católicos. Para isso, mandou distribuir pequenos calendários pelo povo, dando assim início à multiplicação massiva dos mesmos entre todas as camadas da população, que passaram a contar com uma forma simples e prática de consultar o avançar dos dias.

Portugal não fugiu à regra, com o rei Filipe I, que governou o país no início do domínio espanhol, a tornar o Gregoriano oficial, corria 1582. Tal como noutros países, foram distribuídos exemplares entre os cidadãos. Curiosamente, houve nações que acabaram por adotar esse calendário somente no início do século XX. Foi o caso da China, mas também de países europeus como a Roménia, a Jugoslávia, a Grécia, a Turquia ou a própria URSS.

O calendário asteca foi o primeiro a dividir o ano em 365 dias. Quase todos os exemplares foram destruídos pelos espanhóis

Acertar o planeta

O próximo ano será especial. Em 2020, que está quase a bater à porta, haverá mais um dia do que o habitual: 366 no total. É ano bissexto, portanto. O fenómeno repete-se de quatro em quatro anos e tem explicação científica, serve para acertar o calendário com o movimento de trasladação do planeta Terra. Fevereiro, o mês mais curto, é o grande beneficiado, sendo-lhe acrescentado o dia adicional do ano.

Os anos bissextos já eram referidos no calendário juliano, instituído pelos romanos. Então, aconteciam de três em três anos. Só com a instituição do calendário gregoriano se alteraram para os atuais quatro de intervalo. Curiosidade, os Jogos Olímpicos realizam-se sempre em anos bissextos, assim como os Campeonatos da Europa de futebol.