António Gandra D’Almeida, o tenente-coronel que vai mandar no SNS

António Gandra D’Almeida é o novo diretor executivo do SNS

Militar de bata branca, destacou-se a revitalizar equipas do INEM. A nível internacional, foi operacional em situações de risco. Recebeu seis distinções, uma delas atribuída por Marcelo Rebelo de Sousa.

“Tem um currículo que fala por si. É um médico militar, muito habituado à organização e operação no terreno de emergência médica.” Assim resumiu a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, o percurso profissional que levou a que António Gandra D’Almeida fosse o escolhido pelo Governo de Luís Montenegro para suceder a Fernando Araújo à frente da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Um homem que esteve em missões internacionais em condições muitas vezes adversas e que tem a capacidade de agregar uma equipa de várias origens, mas que também tem uma visão para o SNS”, acrescentou a governante em tom de destaque.

Tenente-coronel dos quadros permanentes do Exército, António Gandra D’Almeida junta no seu currículo as áreas da medicina e do ramo militar em partes iguais. Nascido em Coimbra e com raízes minhotas em Ponte da Barca e Vieira do Minho, licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, continuando a história familiar ao suceder ao avô e aos pais na carreira médica. Frequentou também a Academia Militar, onde se pós-graduou em Saúde Militar.

O percurso académico não ficou por aí, tirando um mestrado focado na medicina em situações de desastre e especializando-se em Cirurgia Geral e ainda em Gestão de Serviços de Saúde. Em Israel, completou um curso de Planeamento e Coordenação em Catástrofe, que lhe viria a ser útil na aplicação prática que dele fez em situações de risco em diversas participações em ações humanitárias além-fronteiras. Em 2023, foi mesmo dos principais operacionais no terreno destruído por um violento sismo que abalou partes da Turquia e da Síria. Uma missão que lhe rendeu elogios e distinções, a maior delas atribuída pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, uma das seis que lhe foram entregues por anteriores governos e pelas Forças Armadas por outros louvores.

Comandante do Agrupamento Sanitário do Exército Português, António Gandra D’Almeida liderou equipas médicas do Exército e no Estado-Maior-General das Forças Armadas. E foi formador indicado por várias entidades, além de colaborar com artigos científicos para publicações da especialidade. Fez também parte da Comissão Nacional do Trauma e, entre outras, da Comissão Instaladora da Competência em Medicina Militar.

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi um dos principais focos de ação, tendo sido responsável por instalar uma equipa de VMER no populoso concelho do Barreiro, distrito de Setúbal. Antes, de 2014 a 2019, coordenara as Vias Verdes da Região Centro do INEM. Estes trabalhos sublinharam-no no meio e em 2021 foi chamado ao cargo de diretor regional do norte do INEM, que desempenhou até ao final de janeiro passado sem que tenha sido justificada publicamente a saída. “Pegou numa casa moribunda e tornou-a uma referência a nível nacional”, assinala Paulo Paço, presidente da Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica. “O segredo dele é a relação interpessoal que mantém com os colaboradores, muito diferente da norma. Prefere a proximidade, ouve as pessoas, tenta ajustar posições para chegar a consensos. E evita colocar barreiras ou obstáculos ao desenvolvimento do trabalho”, descreve. A sua saída continua a ser um mistério. “Nunca se perceberam as razões do afastamento”, lamenta Paulo Paço.

A chegada à Direção Executiva do SNS apanhou de surpresa muitos agentes do setor e será o maior desafio público de António Gandra D’Almeida até à data. “Terá uma tarefa difícil pela frente”, antevê Roque da Cunha, clínico e ex-presidente do Sindicato Independente dos Médicos. “Porque não é fácil substituir alguém com a competência de Fernando Araújo e porque vai herdar um SNS com novos estatutos e a atravessar grandes problemas, como a inusitada e desarticulada criação de unidades de saúde”, explica. Estes e outros dossiês serão os mais escaldantes nas mãos de um homem habituado a situações de emergência e que agora vai tentar dar nova vida a um SNS simultaneamente criticado e carente de novos meios.

Cargo: novo diretor executivo do SNS
Nascimento: 14/09/1979 (44 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)

 

António Gandra D’Almeida é o novo diretor executivo do SNS