Disfunção erétil, um dos grandes tabus da sexualidade. Causas e soluções

O tratamento depende das causas e da sua gravidade (Foto: AdobeStock)

Sob o jugo da vergonha e do estigma, é um problema mais comum do que parece e que afeta homens de todas as idades. O impacto não é só físico, é emocional também.

É um tema delicado, como se sabe. Muitas vezes, escondido por vergonha, por complexos, por tabu. A verdade é que há um problema físico e não só. A disfunção erétil é uma das dificuldades sexuais mais comum nos homens. Essa incapacidade persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória tem consequências. Em Portugal, estima-se que atinja meio milhão de homens: 50% entre os 40 e os 70 anos de idade, podendo chegar aos 85%, acima dos 75 anos de idade.

É um problema frequente e que, na verdade, afeta homens de todas as idades, embora a sua prevalência tenda a aumentar com o passar dos anos. E obviamente que causa desconforto. “Fruto da cultura, do estigma e da vergonha, de pressões sociais e até do impacto nas relações, o homem continua a percecionar vergonha pelas dificuldades ao nível da ereção, condicionando a sua autoestima e a sua perceção de valor”, comenta, a propósito, Catarina Lucas, psicóloga e sexóloga, diretora do Centro Catarina Lucas. Mas não é uma situação maligna e pode ser tratada.

A qualidade de vida e da relação ressente-se, como é natural, e Isabel Hermenegildo, especialista em Genitoestética, deixa o aviso. “Apesar de ser uma doença benigna, tem um grande impacto na vida sexual do doente que pode ter bastantes repercussões psicológicas. Muitas pessoas sentem receio e vergonha em dizer ao seu próprio médico. Contudo, na maioria dos casos a disfunção erétil é tratável”, afirma.

Causas? Há várias. Catarina Lucas responde. “As causas da disfunção erétil podem ser de origem física, orgânica, psicológica ou mista. As causas físicas são mais comuns em homens com mais de 50 anos e podem incluir doenças cardiovasculares, perturbações hormonais, diabetes, cirurgias na zona pélvica ou efeitos secundários de terapêuticas medicamentosas.”

As causas psicológicas são mais comuns em homens jovens, tendencialmente abaixo dos 40 anos. “A ansiedade é uma causa muito comum para a disfunção erétil, assim como problemas emocionais ou no relacionamento com o/a parceiro/a. A depressão, os traumas sexuais e as expetativas irrealistas também podem estar associadas ao desenvolvimento do problema”, adianta a psicóloga. O tabagismo, o consumo de álcool e o sedentarismo podem ter alguma responsabilidade nesta matéria.

Catarina Lucas, psicóloga e sexóloga, diretora do Centro Catarina Lucas
(Foto: DR)

Uma doença crónica e um efeito secundário de um tratamento que se está a fazer, devido a outras patologias, como diabetes, obesidade e hipertensão arterial, podem ser a causa física ou hormonal para a disfunção erétil. “Dentro das causas psicológicas, estão a depressão, ansiedade, stress, perturbações no sono, dificuldades no relacionamento conjugal, etc.”, refere Isabel Hermenegildo. O controlo de fatores de risco ajuda a prevenir através de mudanças no estilo de vida, como, por exemplo, praticar atividades físicas e optar por uma alimentação adequada. “Outra chave para a prevenção é falar sobre o assunto e perceber que falar sobre o tema pode trazer vergonha e muito receio aos pacientes no momento de pedir ajuda”, acrescenta a especialista em Genitoestética.

Ansiedade, stress, frustração

“Os sinais a que se deve estar atento são, acima de tudo, a dificuldade na penetração, a diminuição do desejo sexual e as alterações da qualidade da ereção”, explica Isabel Hermenegildo. Sinais que até se podem manifestar de forma progressiva, ou então de forma espontânea. “A duração e as situações em que ocorre e quando ocorre podem ser dados importantes para perceber se a causa é psicológica, física ou ambas.” Os principais sintomas de disfunção erétil são a ejaculação rápida ou precoce, a dificuldade para ter ou manter uma ereção, uma ereção por vezes menos intensa, em que existe uma maior necessidade de concentração e tempo para a conseguir, e diminuição do desejo de ter relações sexuais.

Embora seja considerada normal com o envelhecimento, um homem com disfunção erétil deve procurar ajuda. “O impacto da disfunção erétil na vida do homem e na vida de um casal é grande, tanto no domínio físico como psicológico. A disfunção interfere com a capacidade para usufruir de uma sexualidade satisfatória para o próprio e para o outro, acabando por gerar sentimentos de desvalorização, diminuição da autoestima, aumento da ansiedade nos momentos que antecedem o ato sexual e aumento da frustração subsequentemente ao ato sexual”, adianta Catarina Lucas.

A maioria dos homens afetados tende a ter relações íntimas pouco duradouras, a evitar relações de continuidade por medo de falhar, a afastar-se sem grande explicação. Há outras situações como, por exemplo, o envolvimento com várias pessoas para testar o desempenho sexual. “Neste tipo de comportamento confirmatório, o foco deixa de ser o momento em que se está e a pessoa com quem se está, para passar a ser apenas o ato físico, com reduzido envolvimento emocional, de forma a testar e mostrar a si mesmo se vai conseguir ou não manter uma ereção satisfatória, preocupando-se apenas consigo e não com o que o parceiro/a possa sentir durante o ato, desconectando-se do momento, trazendo para a relação um elevado desconforto”, adianta Catarina Lucas. O que não é nada recomendável. Se a performance sexual ficar aquém do esperado, aumenta ainda mais a frustração e as relações deterioram-se.

A disfunção erétil afeta também a parceira ou parceiro que, não raras vezes, considera que é responsável e culpabiliza-se pela ausência de resposta sexual. Catarina Lucas diz como proceder. “O apoio do parceiro/a é fundamental, tanto em termos emocionais como em termos práticos na procura de ajuda e implementação de soluções. A crítica deve ficar à porta, devendo existir um comportamento de suporte, de compaixão e empatia para com o sofrimento do outro. Dialogar, expressar afeto e ser parte da solução é de extrema importância.”

Gel, medicamentos, implantes, terapias

Independentemente da causa, a disfunção erétil tem tratamento e formas de minimizar o seu impacto. A procura de ajuda não deve ser adiada, quando as dificuldades acontecem de forma recorrente e interferem na qualidade dos relacionamentos sexuais, é altura de procurar apoio especializado junto do médico de família ou urologista, para avaliação dos sintomas e causas. No caso da disfunção erétil com causa psicológica é importante consultar também um psicólogo especialista em sexologia ou terapia sexual.

O tratamento depende das causas e da sua gravidade. Segundo Isabel Hermenegildo, há medicamentos que devem ser prescritos pelo profissional de saúde que ajudam a irrigação peniana. Cada caso é um caso e pode haver outras doenças associadas ao paciente. “Outras alternativas são tratamentos hormonais e o recurso a bombas de vácuo que favorecem a ereção, ou até implantes penianos.”

Isabel Hermenegildo, especialista em Genitoestética
(Foto: DR)

“Existem várias opções de tratamento disponíveis para a disfunção erétil, dependendo da severidade dos sintomas. Algumas opções comuns passam pela terapêutica medicamentosa, terapia sexual ou de casal, injeções penianas, aparelhos de vácuo e alguns casos, intervenção cirúrgica. Além destas hipóteses, existe já no mercado um tratamento em gel, de venda livre e não invasivo, que pode ser incluído nos preliminares com o/a parceiro/a, de aplicação tópica, ajudando o homem a obter a ereção em cerca de 10 minutos”, sustenta Catarina Lucas.

É importante sensibilizar e deixar claro que não há motivo para sentir vergonha. Para Catarina Lucas, a consciencialização e educação sobre saúde sexual são essenciais para combater o estigma e estimular os homens a falar sobre as suas dificuldades sexuais. “Eliminar os tabus e a vergonha é essencial para que isto não se torne numa bola de neve, de consequências físicas e psicológicas enormes”, conclui.