Mark Rutte, o “Sr. Normal” que resiste a todos os escândalos

Mark Rutte é primeiro-ministro dos Países Baixos e futuro secretário-geral da NATO

Tornou-se o primeiro-ministro com mais tempo de poder nos Países Baixos. Cultivou a imagem de um cidadão como os outros. E resistiu a inúmeras polémicas, inclusive relacionadas com a vida pessoal.

Prestes a deixar o cargo de primeiro-ministro, Mark Rutte já tem futuro definido. Será o quarto político dos Países Baixos secretário-geral da NATO, depois de Dirk Strikker (1961-1964), Joseph Luns (1971-1984) e Jaap de Hoop Scheffer (2004-2009). Vai suceder ao norueguês Jens Stoltenberg, com posse prevista para 1 de outubro. “É uma honra”, limitou-se a reagir o homem que terá que lidar com a guerra na Ucrânia como tema quente do mandato.

Nascido em Haia, Mark Rutte é conhecido como o “Sr. Normal”. Discreto, embora muitos críticos o apontem como ambicioso, continua a dar aulas de Estudos Sociais uma vez por semana numa escola secundária, vai de bicicleta de casa para o palácio do Governo, faz compras no supermercado, anda a pé. Nas poucas deslocações em que prefere o automóvel, conduz o seu velhinho Saab 9-3.

Há quem lhe aponte sinceridade em todos esses gestos comuns, outros garantem que se trata de estratégia pensada para que se assemelhe a um cidadão comum. Seja como for, guardou um lugar na História como o mais longevo líder de um Executivo em terras neerlandesas. Chegou ao poder em 2010 e durante praticamente década e meia não o largou, depois de duas experiências anteriores como secretário de Estado, do Emprego e Assuntos Sociais, e do Ensino Superior e Ciência, o que lhe permitiu angariar popularidade e concorrer à liderança dos liberais do VVD (Volkspartij voor Vrijheid en Democratie – Partido Popular para a Liberdade e Democracia), em 2006, guiando-o à primeira vitória de sempre em eleições legislativas. Comandou quatro Governos, todos de coligação, em equilíbrios aparentemente frágeis com forças tão díspares como os trabalhistas (centro-esquerda) e os democratas-cristãos (direita conservadora). Em 2023, anunciou que não seria cabeça de lista do VVD no escrutínio de 22 de novembro. A eleição foi ganha pela extrema-direita do PVV, de Geert Wilders. Sete meses volvidos e dezenas de arrastadas negociações depois, os Países Baixos continuam sem novo primeiro-ministro, que deverá ser o independente Dick Schoof, ex-responsável pelos Serviços de Inteligência, ainda por empossar. Mark Rutte assegurou que se manteria em funções enquanto decorresse o período de transição de forma a garantir o normal funcionamento das instituições, aumentando assim o seu recorde em relação ao histórico Ruud Lubbers, chefe de Governo entre 1982 e 1994.

Rutte enfrentou escândalos, como o que levou a que milhares de cidadãos em condições precárias tivessem sido falsamente acusados de fraude na obtenção de ajudas sociais e obrigados a devolver o dinheiro recebido do Estado. Ou como quando vários parceiros de coligação do último Governo culparam os migrantes pelo aumento generalizado dos preços, levando à sua queda e à convocação de eleições antecipadas. No entanto, saiu sempre por cima, ganhando a alcunha de Teflon, numa alusão ao material que resiste incólume a todo o tipo de temperaturas.

“Ele é um gestor de processos. Resolve problemas, não vende ideias”, definiu a jornalista Elodie Verweij-Sauter, citada pela revista britânica “The New Statesman”. “Projeta a imagem realista, prática e cautelosa que os holandeses adoram”, resumiu o jornal “The Guardian”.

Solteiro e sem filhos, Mark Rutte nunca casou e sempre viveu em Haia. Os rumores sobre a sua alegada homossexualidade são recorrentes nos Países Baixos e o próprio já os abordou publicamente. Quando questionado sobre o assunto numa entrevista televisiva, em 2016, respondeu indiretamente: “O último tabu no país é alguém viver sozinho”.

Filho mais novo de um comerciante que se casou com a irmã da primeira mulher, a qual morreu durante a II Guerra Mundial num campo de prisioneiros em Jacarta (atual Indonésia e então colónia dos Países Baixos), em que ambos se encontravam detidos, o futuro secretário-geral da NATO foi educado como protestante, quis ser pianista, acabou por se formar em História na Universidade de Leiden e trabalhou na multinacional Unilever.

Do alto dos seus 1,93 metros, vai mandar no maior bloco militar do Mundo, formado por 32 países, incluindo Portugal.

Cargo: primeiro-ministro dos Países Baixos e futuro secretário-geral da NATO
Nascimento: 14/02/1967 (57 anos)
Nacionalidade: Neerlandesa