Vítor Bruno, o professor que só trabalha de calções

Vítor Bruno é treinador do F. C. Porto

Adepto da Académica, é filho de um histórico treinador de futebol. Licenciado pela Universidade de Coimbra, foi jogador incógnito. Detesta perder e adora jantaradas com amigos.

De uniforme aprumado – camisa branca, blazer e calças azuis-escuros, lenço claro a espreitar o bolso direito do casaco, sem gravata -, Vítor Bruno mostrou-se bem-humorado no arranque da sessão pública que marcou a sua primeira intervenção como novo treinador do F. C. Porto. “Quero manifestar o desconforto por estar estar de fato”, brincou. E provocou o presidente, André Villas-Boas: “Terá que investir um bocadinho porque vou ter de me apresentar de outra maneira daqui para a frente”, lançou. O homem que gosta sempre de vestir calções, seja em campo, seja fora dele, assumia a capa de técnico do clube de que foi adjunto nas últimas sete épocas e deixava logo assente que a atitude e o espírito de missão continuariam os mesmos.

Nascido em Coimbra, filho de Vítor Manuel, sétimo treinador com mais jogos na Liga (511), Vítor Bruno herdou do pai o prazer pelo futebol visto e jogado. Aventurou-se pelas camadas jovens da Académica, o seu clube do coração, e começou a dar os primeiros pontapés na bola antes de completar dez anos, na sua Briosa. Foi de camisola negra que completou a formação, ora como lateral-direito, ora como defesa-central, ora como médio defensivo. “Era um miúdo muito regular e disciplinado, com um grande nível de concentração para a idade”, recorda José Viterbo, que treinou Vítor Bruno durante praticamente todo o percurso na formação. “Nunca foi expansivo no discurso. Embora reservado, mostrava-se sempre atento a todos os detalhes que o rodeavam e sabia ler e ouvir nas entrelinhas”, nota.

Quando atingiu a idade de sénior, deixou a Académica e iniciou carreira no Bideiroense (Leiria), na 3.ª Divisão Nacional. Corria a época 2001/02, a meio da qual se transferiu para o Vigor e Mocidade, dos distritais de Coimbra. Seguiu-se uma temporada no Mirandense e outra no Tourizense (ambas no Nacional da 3.ª Divisão) e duas no Marialvas. Os derradeiros passos foram ao serviço de Gândara e AD Valonguense, colocando ponto final na carreira em 2007/08, com apenas 25 anos. “Era um líder dentro de campo e no balneário. Mas não era uma liderança comum, impunha-se sobretudo pelo silêncio e pela tranquilidade que manifestava. Percebia-se que tinha perfil de treinador”, define José Viterbo, que também o treinou como sénior.

Durante o percurso como futebolista, completou a licenciatura em Ciências do Desporto e de Educação Física pela Universidade de Coimbra, onde conheceu e começou a namorar com a futura mulher, Elsa Varela, antiga jogadora da seleção feminina de râguebi. São pais de três filhos, todos eles com nomes começados pela mesma letra: Guilherme (dez anos), Gustavo (oito) e Gabriel (quatro). Os dois mais velhos jogam nas escolinhas do F. C. Porto.

Após um curto período como professor, iniciou em Angola o trajeto como adjunto, no Interclube, na equipa técnica de Augusto Inácio. No mesmo ano, em 2009, e também em Angola, acompanhou o pai no 1.º de Agosto. Voltou a trabalhar com Inácio em 2010, na Naval 1.º de Maio, e depois no Leixões. Até que Sérgio Conceição, que se estreava como treinador principal, o convidou para a aventura no Olhanense, em 2011/12. “Era preparador físico, mas pelo espírito de liderança foi fácil concluir que daria bom treinador”, recorda Isidoro Sousa, então presidente dos algarvios. “O Vítor Bruno era o ombro do Sérgio Conceição. Quando este explodia, o Vítor apaziguava os ânimos e abafava o lume. Mas também era intenso, detestava perder”, define.

Vieram depois Académica, Sp. Braga, V. Guimarães, Nantes e F. C. Porto. Apesar das andanças de nómada a que a profissão obriga, continuou a ter em Coimbra o abrigo natural. “Organiza jantares com amigos do futebol e não só. É um bom garfo, gosta de tudo”, destaca José Viterbo.

A recente chegada ao cargo de treinador do F. C. Porto motivou reação forte de Sérgio Conceição, com acusações de traição pelo meio. “Foi uma novela com capítulos a mais para o que é o guião da minha consciência. Tenho a minha paz interior completamente garantida”, assegura o homem que não deixa os calções para trás e agora vai viver o maior desafio profissional da carreira.

Cargo: treinador do F. C. Porto
Nascimento: 02/12/1982 (41 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)